Crianças diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) não são escutadas para que as causas de seu comportamento sejam esclarecidas e tratadas, mas julgadas a partir de suas ações. O desejo da sociedade, evidenciado neste caso pela escola e pela família, em silenciar a agitação da criança, tem o tratamento medicamentoso como primeira escolha de intervenção.
O TDAH é o transtorno psiquiátrico atualmente mais tratado em jovens e apresentou um grande crescimento de diagnósticos na última década. Estima-se que de 4% a 10% das crianças apresentem o problema no mundo. É comum o uso do metilfenidato (com o nome de Ritalina) como principal forma de tratamento, além de pequenas intervenções com terapia comportamental.
O metilfenidato pode causar reações adversas que vão desde enjoo e insônia até convulsões e pensamentos suicidas ou surgimento de comportamentos obsessivo-compulsivos. Porém a reação mais comum é mesmo o “efeito zumbi” que valeu à Ritalina o apelido de “droga da obediência”. “
Um diagnóstico limitado, indicando que a criança sofre somente de disfunções neuroquímicas, leva à escolha de tratamentos que causam diversos efeitos colaterais e suprimem diretamente comportamentos espontâneos, pela diminuição da curiosidade, da vontade de brincar e da socialização. Por vezes, a expressão de sentimentos é reduzida e até mesmo eliminada, principalmente quando a angústia está associada ao conflito.
O uso do medicamento causa o alívio dos sintomas, o que é interpretado como indicativo de cura. A sensação de que está tudo bem mascara o mal-estar e impede uma intervenção baseada na causalidade psíquica.
Um ponto fundamental a se considerar é que os sintomas apresentados por uma criança apontam sempre para a singularidade daquela criança, não sendo possível generalizar o significado/sentido daquele sintoma.
TEXTO ORIGINAL DE USP
comentarios recentes