Todos nós já passámos por uma situação em que uma pessoa, pelas suas características gerais, nos incomoda de tal forma que esse incómodo acaba por ocupar um espaço demasiado grande na nossa mente. Nessa fase, parece que qualquer coisa que a pessoa diga ou faça nos irrita, é ridículo ou inadequado, constitui uma provocação intencional…
Quando desabafamos sobre isso com os nossos amigos, companheiro/a ou familiares (coisa que provavelmente fazemos amiúde), revivemos a emoção que sentimos quando estamos perante essa pessoa ou que sentimos numa determinada situação que ocorreu com essa pessoa e que nos irritou ou magoou particularmente. É também provável que acabemos por repetir as mesmas queixas vezes sem conta. Mas porque será que não nos sentimos verdadeiramente melhor depois disso?
O que frequentemente acontece é entrarmos num registo de ruminação: estamos constantemente a lembrar-nos da pessoa ou situação, a falar inflamadamente sobre ela e não conseguimos observá-la de forma externa e imparcial. Assim, estamos a atirar lenha para a fogueira que nos consome: a situação vai ganhando força, porque reforçámos os nossos pensamentos pela repetição, evocando as emoções subjacentes e, para o nosso cérebro, reviver é equivalente a viver. Logo, estamos a fazer-nos passar por tudo outra vez!
É claro que desabafar é bom e é fundamental ter bons amigos que nos ouçam e apoiem. Mas há que estabelecer limites para nós mesmos: quando dedicamos demasiado tempo e energia a um assunto, ele será potencializado tanto para o “bem” como para o “mal”. Portanto, devemos estar atentos para perceber o momento a partir do qual nos entregámos à reclamação, ao apontar de dedos, recusando responsabilidades e colocando-nos no papel de vítimas. Iremos, certamente, sofrer um grande desgaste físico e psicológico, para além de tal atitude não constituir uma solução para o problema.
É importante lembrarmo-nos de nos colocarmos no lugar do outro, de forma isenta, e que temos sempre uma quota de responsabilidade na relação com essa pessoa, pela influência do nosso comportamento na sua dinâmica. Assim, se quisermos harmonizar a relação, não adianta esperar que o outro mude por artes mágicas! Talvez apenas nós estejamos incomodados com a forma que assume essa relação, passando esse a ser um problema exclusivamente nosso (até ao ponto em que não exceda os limites do respeito e da liberdade individual, obviamente). Então, porque não darmos nós o primeiro passo para a mudança e, consequentemente, para o nosso bem estar?
Patrícia Dias
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