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Há uma espécie de tristeza quando se vê o mundo como realmente é

Há uma espécie de tristeza quando se vê o mundo como realmente é

Há uma espécie de tristeza que não grita, não se traduz em lágrimas visíveis nem em silêncios pesados. É uma tristeza discreta, quase impercetível, que se instala devagar. É aquela que nasce quando o olhar atravessa as ilusões e vê o mundo como ele realmente é.

Percebe-se, então, que os dias poderiam ser grandes aventuras, mas acabam por se repetir em rotinas previsíveis. Descobre-se que o tempo não espera, que a vida não se detém, que tudo o que existe está, de alguma forma, em despedida constante. E, por vezes, a maior dor vem ao perceber que as pessoas nem sempre são o que parecem — e que nós próprios também escondemos territórios desconhecidos dentro de nós.

Grande parte do sofrimento nasce exatamente dessa falta de consciência. Durante muito tempo, não se cuida de si, não se protege a própria saúde, não se valoriza o bem-estar que sustenta a qualidade da vida terrena. E quem não sabe cuidar de si, dificilmente saberá cuidar verdadeiramente do outro. O resultado é inevitável: ao magoar o outro, acabamos também por ferir a nós próprios.

Cada ser humano carrega em si a fragilidade da impermanência. Nada é eterno. Tudo o que se tenta segurar com força escapa como água entre as mãos. Quando o olhar se torna lúcido, compreende-se que a felicidade não é um estado permanente, mas uma breve visita. Ela surge em instantes — num riso partilhado, num encontro inesperado, numa paz que dura segundos — e logo se desfaz.

Essa consciência pesa. Pesa porque obriga a aceitar que a solidez que tanto procuramos nunca existiu. Que a vida é feita de instabilidade, de incerteza, de momentos que já nascem destinados a quebrar-se.

E, no entanto, é desse peso que nasce um novo olhar. A lucidez, por mais dura que seja, traz também a capacidade de valorizar o que é pequeno. Ensina a reconhecer a beleza na luz suave do fim da tarde, no som da chuva a cair na janela, na respiração tranquila de quem dorme ao nosso lado. Ensina que, se nada permanece, cada instante pode ser infinito na sua brevidade.

É nesse lugar paradoxal — onde a dor e a beleza se encontram — que a vida se revela na sua forma mais verdadeira. Porque compreender a fragilidade da existência não nos rouba a alegria; antes a torna mais profunda, mais presente, mais humana.

E talvez seja aí que se encontra a essência de viver: na aceitação da impermanência e na capacidade de transformar cada momento simples em eternidade.

Reflexão EditeDayspa

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